Andar à roda... lembras-te de quando tínhamos saias com "roda" e fazíamos concursos para ver quem aguentava mais tempo sem cair? E aqueles balouços (dos quais eu tinha pavor!) que eram uma roda de cavalinhos onde cada menino se sentava agarrando firmemente um ferrinho que parecia querer arrancar-se a todo o instante? Lembro-me de ser mais alta e talvez por isso considerada "capaz" de aguentar o que os rapazes aguentavam... dizia então a professora: -"Sara, para aquele grupo!" - Era o pesadelo! Sendo mais alta, enjoava mais, pois tinha a sensação de andar num balouço muito mais pequeno e frágil do que devia... Como eu invejava as meninas pequeninas que nunca tinham que levar os colegas às cavalitas! E eu quando ia às cavalitas de alguém era só porque se tinha portado mal, e merecia um castigo.
Andar à roda era uma sensação estranha, incómoda, mas à qual me habituei, talvez por toda a minha infância ser, também assim estranha, incómoda... Detestei o infantário, numa época em que era a minha avó que me vestia e me obrigava a usar calças de fazenda castanha... quando em plenos anos 80, começavam a aparecer os primeiros rosas chock, os elásticos de cabelo fluorescentes, as gangas de côr e as sandálias "Colibri"... (Se tive duas saias até aos 7 anos, vesti-as 2 vezes cada uma, e foi muito). Cresci assim numa ânsia de ser maior, de crescer depressa e poder escolher "a minha saia, o meu rosa, e deixar crescer o cabelo, mesmo que tivesse que doer quando me escovava*".
*Nota: o acondicionador, ou amaciador apareceu nos supermercados bastante mais tarde. Mesmo com o cabelo à "garçonne" chorava baba e ranho para que a minha avó (ou às vezes a minha mãe) o "desenrriçasse" - Há anos que não digo esta palavra.
Hoje, a memória destas pequenas coisas parece diminuí-las. Já não é uma "dor de barriga" dizer "não, não quero andar neste balouço" ou "não gosto desta comida". Mas em detrimento dessas dificuldades, também se perdem virtudes. Como era engraçado ter um dia inteirinho para andar de balouço, jogar às escondidas, andar de bicicleta até não poder mais.
As espirais fazem-nos passar sempre nos mesmos locais, mas sempre com perspectivas diferentes, traçamos percursos que nunca coincidem mas sempre em roda de nós mesmos, da nossa identidade.
2 comentários:
:) I´m dizzy
Esta história da avó que te vestia calças castanhas de fazenda fez-me identificar um pouco... Eu lembro-me de viver o estigma da filha mais nova, com 2 irmãos mais velhos, em que quase toda a minha roupa tinha passado por eles... Então as modas chegavam até mim completamente fora de prazo he he he
beijinhos
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