Gosto de coisas complicadas. Gosto de arabescos e cornucópias, da arte islâmica, hindu, chinesa, japonesa ao rocócó e ao celta. Não pela complicação em si, mas porque descubro sempre algo de novo. O Arraoiolos sempre me deliciou com as suas cores e desenhos. Aprendi a fazê-lo com 8 anos e comecei por ajudar a minha mãe a fazer um tapete de 3 por 3 (tipo de ponto que apanha 3 fios de tela) com a simpática medida de 2mx1,5m. Foi uma aventura! Só uns 4 anos depois ficou pronto. Mais tarde percebemos as diferenças e o factor "tradição". O verdadeiro Arraiolos é feito em ponto de 2 por 2 (cada ponto apanha 2 fios de tela). Mas muito mais moroso, difícil (passar a agulha dentro para rematar faz calos e bolhas!) mas também inifnitamente mais bonito.Fiz muitas almofadas e pequenos tapetes. Quase todos esses projectos feitos sem esquema. Realmente não consigo trabalhar de outro modo. Até que cheguei aqui:
Peço desculpa pela má qualidade da foto, foi tirada à noite com luz artificial... No entanto dá para ver pelo menos os desenhos. Inspirei-me em formas do Arraiolos tradicional, as quais de tanto fazer já saiem de cor, sem planear.
Mas o que realmente gosto é de "brincar" com as cores. Nos tapetes tradicionais, as cores são bonitas, nos originais mais antigos, principalmente. Contudo, de há uns anos para cá a tendência é fazer tapetes quase sempre em tons beijes, castanhos, amarelos e salmão e ocasionalmente verde-seco ou azul. É pena. A paleta de cores destas lãs (que o Arraiolos é bordado a lã pura) é variadíssima, e a imagética portuguesa presente no artesanato é tudo menos "desbotada"!
Apostei assim em cores que adoro, os verdes em contraste com laranjas e rosas e amarelos, e com pequenos apontamentos de vermelho. Fiz isto há uns 4 ou 5 anos, muito antes de sonhar com a minha presente casa, que (coincidência ou não) é destas mesmas cores.Uma das questões si n'est quoi non dos Arraiolos ditos "verdadeiros" é o facto de terem os cantos em espinha, como se verifica na foto abaixo:
Até há bem poucos anos esta era uma maneira de nos certificarmos se era um tapete genuíno ou uma imitação. Mas a indústria da contrafacção aprende depressa... Hoje já é possível comprar a preços irrisórios um "Arraoiolos" made in China ou noutro qualquer país que não o nosso.Se de facto não podem, não querem ou não conseguem comprar o original, então porque não fazer um? Concordo que não será igualmente legítimo. Mas será português, levará lãs portuguesas e divulgará de maneira não explorativa o nome dos lindos tapetes. Só tenho pena que os esquemas que se vendem em revista sejam tão monótonos, não entusiasmam ninguém... Mas pelo menos se alterarem as cores, e um pouquinho dos desenhos, ficaram com uma peça original.
Que me dizem?
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